Sexagésimo segundo dia – 3 de Fevereiro – Quinta feira

Mais um dia de despedida, é assim que posso resumir essa quinta feira. Acordei e fui para a escola com uma dor muito grande no coração, hoje seria o ultimo dia que eu teria uma companhia para pegar o ônibus na ida e na vinda da escola. O pessoal não apareceu para a primeira aula de hoje, conseqüência na da festa de ontem. No primeiro momento ate me desesperei, pois Marcel também não foi à aula, mas no intervalo ele apareceu, assim como o restante do pessoal.

Na hora do almoço a conversa era sobre as conseqüências da balada de ontem e também sobre Marcel, pois esse menino marcou a vida de todo mundo, a minha principalmente. Lembro-me do meu primeiro dia aqui em Vancouver, desci do avião e me encontrei com ele, pois iríamos pegar o mesmo transfer, conversamos um pouco dentro do carro, até que chegamos a Igreja onde Faith estava a minha espera, me lembro que na hora que eu fui me despedir dele, o mocinho apenas me disse: Boa sorte para você, aí!!!  Mal ele sabia que a minha sorte estava ao lado dele.

Já na segunda feira, primeiro dia de aula, todo mundo nervoso, ansioso, era muito pouco tempo para responder as questões, tudo novo e lá estava Marcel. Saí da prova e ele foi a primeira pessoa que encontrei, eu falei com ele e ele me respondeu em inglês, eu não entendia nada então pedi para ele conversar comigo em português e o convidei para ir almoçar comigo, a partir daí almoçamos todos os dias juntos. Esse menino foi um exemplo aqui para todo mundo, como diz a Gabi, um dia a gente arruma um namorado igual a ele. Todas as historias e as brincadeiras, as perolas do Marcel, as vezes que ele deixou de comer para comprar jogos de vídeo game (37), tudo isso marcou cada um de nós de alguma forma, até mesmo os venenos dele vão fazer falta.

Gabi, Jéssica e Renato se despediram dele assim que terminou o almoço, eu ainda tive pela ultima vez uma companhia no ônibus para voltar para a casa. Viemos conversando bastante, relembrando os momentos que éramos eu ele e Tayane, trocamos confidencias e fiz uma promessa: Não vou deixar que nada atrapalhe minha viagem.  (já estou cumprindo)

Marcel sempre tem alguma coisa para contar, seja sobre o valor da multa que você leva se jogar lixo no chão, ou sobre o valor da taxa que pagamos quando compramos alguma coisa, mas a historia de hoje foi para eu colocar no blog (palavras dele). O transporte publico de Vancouver é excelente, para o meu bairro por exemplo, o ônibus passa de 5 em 5 minutos durante a semana e final de semana de 15 em 15, os ônibus nunca atrasam, sempre passam na hora marcada, mas Marcel me contou que quando foram implantar esse sistema de ônibus usaram como exemplo o sistema de transporte europeu, mas não adaptaram as necessidades da população canadense, então os ônibus são muito altos, mas a população daqui é baixa já que grande parte da população é coreana, então tiveram que colocar argolas nos canos que ficam perto do teto do ônibus para que as pessoas pudessem alcançar quando precisassem segurar, mas mesmo assim eles não usam, não estão acostumados com isso, então fica todo mundo aglomerado perto dos canos que saem do chão do veiculo. Informações da enciclopédia Marcel Dornelas.

Finalmente chegou a hora da despedida, ele me disse que estava com os olhos cheio de lagrimas que era para eu olhar para ele, mas não tive coragem, pois sabia que iria chorar, ele então me abraçou e disse que gostava de mim assim como gosta da irmã dele, eu não consegui dizer mais nada, apenas esperei ele sair do ônibus e chorei.

Amanha é dia de mais uma despedida, meu fiel escudeiro também vai encerrar a jornada dele por aqui.